martes, 28 de marzo de 2006

Como esquecer tudo o acontecido, se o tenho gravado no coração...

Não posso acreditar

que tudo isso se perdeu,

que não vou voltar para a Dutra,

que não vou cruzar pelo meio da mata virgem

que não vou me enjoar pela estrada ruim,

que não vou jamais a olhar Paraty

a pousada, quarto um, teto alto

cama casal, lençol branco

a rua de pedra, cheia de pó

as casas com telhados irregulares

feitos por escravos

pequenas, muitas não habitadas

que agora são lojas de coisas para gringos,

essas ruas de pedra, longas, cheias de pó

com bandeiras na estrada, pela festa da padroeira,

que não vou cruzar essa ponte, o rio, num dia de nuvens pretas,

que não voltarei a olhar a baía, os pescadores,

as igrejas velhas e sem pintar,

a mata virgem e a praia,

a Pousada do Forte, no monte

os canhões, o forte na colina

você sorrindo, com seus olhos dessa cor mística

a chuva, o cheiro a pó

essa árvore, de mais de cem anos,

na que eu brinquei como neném

o suco na loja,

que não terei mais dias de chuva

nos que farei amor a uma mulher branca

cheia de pintas na pele, de cabelos encacheados

que me olha o rosto com tanto amor

e me diz te amo tão suave

que não escutarei o Freddy cantar uma Bossa

um samba com o seu violão,

que terei que esquecer meus amigos,

o Che Bar do meu coração,

aquele no que cantei minha canção

na minha língua, e todos dançaram

aquele no que te vi dançar um samba que me fez te desejar

aquele no que deixei tantos amigos, que são mais amigos

que tantos outros que conheci nesta vida

cantores, que fazem chorar o violão, mulheres e homens

que cantam da dor que é amar alguém

que não quer ficar contigo,

de como é impossível mudar o pensamento de alguém

e de como não se pode deixar de amar tão fácil

mesmo assim ela não te ame

Não acredito que terei que me esquecer

de sua blusa preta e branca de flores

seu cabelo, seus olhinhos da cor mística

seu quadril e cintura sambando

dela, sentada no chão, olhando o norte

pés na rua de pedra, só olhando

e eu pensando que esse era

um dos momentos mais felizes da minha vida

e quiz parar o tempo aí, para tê-la sempre comigo

que não voltarei para Trindade, por aquele caminho ruim

a cruzar a mata para ir para uma praia

de água fria com ela

o rio morrendo e o mar nascendo

e eu na pedra olhando o horizonte

o mar que bate nas pedras tão forte

e seus olhos de uma cor mística

a fronteira dos estados e o dia da despedida

o São Paulo e esse adeus tão ruim

e que não voltarei a chorar assim por ninguém

Não sei por que tudo acabou assim

eu quis mudar minha vida, juro

mas ela pensou que era melhor esquecer

e agora eu tento viver, e não sei se posso.

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